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Foto do escritorLeonardo Fontes Vasconcelos

Uma carta ao estudante de Direito


Caro aluno, diga-me uma coisa, quem é o responsável pelo profissional que você será ao se formar?


A faculdade? Seu professor? Ou seria você mesmo?


Peço licença para relatar uma preocupação que não é só minha.


Como professores de Direito, deparamo-nos com todos os perfis de alunos, desde os mais dedicados ao próprio aprendizado até aqueles que querem estudar somente o básico, ou nem isso.


Sabe o que nos desanima? É perceber que a parcela dos acadêmicos que não querem se dedicar verdadeiramente é a maior, mais predominante.


Claro, há os alunos dedicados, ainda encontramos os acadêmicos geniais, como você.


Então, essa não é uma crítica nem negativa e nem isolada, apenas um retrato do cenário no ensino superior jurídico.


Em uma reunião da Comissão de Ensino Jurídico da OAB/AC – da qual fui vice-presidente e hoje sou membro consultivo – comentei o seguinte: o Judiciário e instituições jurídicas judicantes, com certa frequência, fazem críticas à qualidade dos advogados que a OAB está entregando ao mercado, até mesmo a Ordem dos Advogados já tendo sido acionada pela qualidade de petição de um dos profissionais. Por sua vez, a OAB – ao menos em comentários internamente e em demandas junto ao Ministério da Educação – delega a causa da baixa qualidade de parte dos profissionais da advocacia às Instituições de Ensino Superior (IES), alegando que estas não têm a qualidade de ensino condizente com o que se espera para a profissão. Como professor de Direito atualmente lecionando na minha segunda faculdade no Acre, tendo contato com colegas de outras IES, percebo que as faculdades e os docentes (aqui eu me incluo) creditam a razão desse problema à qualidade do ensino médio que está cada vez mais desprezando o incentivo à leitura e à escrita. Quem tem razão? Todos. É um contexto bem complexo e interligado.


E, por ser culpa de todos, isso vai ficar assim mesmo? Todos aceitarão e a qualidade do aprendizado ficará cada vez pior?


A enorme maioria dos colegas professores com os quais mantive conversa sobre o assunto externaram que se preocupam com essa geração que, em regra, não se atenta para a importância dos estudos. Quase todos nós, como docentes, pretendemos mesmo ensinar com a melhor qualidade que está ao nosso alcance.


Evidentemente, não possuímos todo o saber jurídico e, às vezes, podemos não ter a mais exemplar das metodologias, mas acredite que nos esforçamos para ajudá-los o máximo possível na sua formação.


Por outro lado, ocorre que a formação jurídica do acadêmico e futuro profissional é uma jornada individual, não é algo padronizado e que ocorre de maneira igual entre todos. Então é necessário que o estudante faça a melhor jornada possível.


Não espere que o seu professor lhe ensine tudo sobre o Direito porque, como já mencionei, nós não sabemos tudo. Mas também, não deseje ver na sua graduação somente o básico, o necessário para passar no semestre e pronto.


Estude, leia. Vivemos uma era da desvalorização da leitura e do pouco interesse pelo conhecimento. Lembra aquele ditado que diz que em terra de cego quem tem um olho é rei? Nos dias atuais, podemos parafrasear dizendo que “em terra de quem não lê, quem estuda é rei”.


Cotidianamente, as instituições de ensino superior exigem dos professores que dominem e apliquem as metodologias ativas de ensino, ou seja, que coloquem nas mãos do aluno a direção dos seus estudos. Se você estiver pensando nesse momento que não é todo professor que tenta aplicar essas metodologias, eu concordo com você. Mas, quando alguns de nós nos esforçamos para fazê-lo, nos deparamos com uma barreira: a maioria dos alunos hoje não quer mesmo estudar profícua e dedicadamente, então como eles vão tomar a direção de seus estudos?


Você pode “se encostar” no argumento de que a faculdade é difícil porque tem muito conteúdo, porque você tem que trabalhar e estudar ao mesmo tempo e ainda manter os compromissos pessoais como os familiares.


Mas, veja só, essa é a vida! Praticamente todos que se formaram em Direito passaram por essas e outras dificuldades. A coisa não é só com você. Não se desanime, por mais óbvio que pareça, devo lembrar-lhe que a faculdade é apenas uma época, e se encerrará.


Só não se esqueça de uma coisa (e acredite nisso): os acadêmicos de Direito que mais se destacam quando chegam ao mercado de trabalho são aqueles que se dedicaram aos estudos durante toda a faculdade, do início ao fim.


Os escritórios sérios atualmente têm propensão a contratar jovens profissionais que demonstram gostar de pesquisar e escrever. Até mesmo em preferência àqueles que já têm passagem por outros escritórios, mas que claramente não são fãs da leitura e da escrita.


Ser mediano, sem esforço para progredir, não te trará nenhum destaque na sua carreira, não importa qual seja ela.


Entretanto, eu sei que você ainda está na faculdade e vive um dia de cada vez, então agora deve estar apenas preocupado com sua aprovação nas matérias.


Mas, acredite, quando chegar no 8º semestre a sua preocupação mudará para o exame da OAB e, adivinhe só, você sentirá que não está preparado e vai ficar ainda mais preocupado e até desesperado (vejo muito isso).


Como evitar esse cenário? Estude! Simples assim. Se dedique o máximo possível em cada disciplina em todos os semestres da faculdade, buscando aprender o máximo possível o que estiver ao seu alcance.


A faculdade é um grande preparatório para o exame da OAB. Não desperdice esses 5 anos de chance para se preparar deixando para estudar no final do curso.


Por fim, extraia o máximo dos seus professores, da sua faculdade e de você mesmo indo além dos slides do professor.


A qualidade do seu futuro – e da justiça social – depende predominantemente de você.

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