Texto escrito com IA tem valor?
- Leonardo Fontes Vasconcelos
- 7 de abr.
- 2 min de leitura

Nos últimos tempos, venho refletindo bastante sobre o impacto do uso da inteligência artificial na escrita de textos. Esse tema tem provocado debates acalorados, especialmente entre professores, pesquisadores e profissionais que trabalham diretamente com a produção de conhecimento. A pergunta que me faço – e que compartilho aqui com você – é simples, mas profunda: será que o uso da inteligência artificial para escrever está mudando tudo?
É inegável que estamos diante de uma mudança de paradigma. A tecnologia avança em um ritmo acelerado e, com ela, surgem novas formas de criar, comunicar e produzir saber. No entanto, o modo como usamos essas ferramentas é que vai determinar o seu valor real. A inteligência artificial pode ser tanto uma aliada quanto uma ameaça à qualidade da escrita, dependendo da forma como é utilizada.
Tenho observado, com certa preocupação, o uso preguiçoso da IA por parte de alguns usuários.
Trata-se daquela prática em que a pessoa simplesmente digita um comando, recebe um texto gerado automaticamente e o copia e cola sem qualquer tipo de reflexão, revisão ou contribuição própria. Para mim, esse tipo de uso está completamente equivocado. O resultado costuma ser um texto superficial, pouco original e, muitas vezes, desconectado do contexto em que será aplicado. A criação de conteúdo exige esforço intelectual, exige reflexão, exige autoria. E isso não se substitui com comandos automáticos.
Por outro lado, há um caminho muito promissor quando se trata de integrar a inteligência artificial ao processo de produção de conhecimento. Penso, por exemplo, no uso da IA como apoio na escrita acadêmica. Imagine um pesquisador que elabora um problema de pesquisa com clareza, desenvolve uma metodologia robusta, realiza um levantamento aprofundado de dados e reflete criticamente sobre os resultados obtidos. Depois de todo esse processo, ele pode contar com a IA como ferramenta para auxiliar na organização e redação do texto científico. Nesse cenário, a IA não substitui o pesquisador — ela o acompanha.
É importante frisar que, mesmo nesse contexto mais elaborado, o papel do autor permanece central. A criação de conteúdo de qualidade depende da capacidade de pensar, de argumentar, de escolher palavras que expressem com precisão as ideias que estão sendo desenvolvidas. Em áreas como o direito, por exemplo, a construção do raciocínio, a persuasão, o domínio técnico e o estilo próprio continuam sendo atributos exclusivamente humanos.
Portanto, não se trata de demonizar a tecnologia, tampouco de adotá-la de forma acrítica. Trata-se de reconhecer que a escrita com IA pode ser uma ferramenta poderosa, desde que esteja a serviço de quem realmente pensa, pesquisa e cria. O futuro da escrita não será definido apenas pela presença ou ausência da inteligência artificial, mas principalmente pela postura ética e crítica com que escolhemos utilizá-la.
Se você, assim como eu, está acompanhando essas transformações no campo da criação de conteúdo, da produção científica e da tecnologia educacional, convido a continuar esse debate. Como professores e pesquisadores, temos um papel fundamental em orientar o uso responsável dessas ferramentas, especialmente entre nossos alunos. A inteligência artificial está aí, disponível, mas o conteúdo original, a reflexão profunda e o compromisso com o conhecimento seguem sendo nossos.
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