Desabafo? Talvez. Mas acredito que este texto esteja mais para um alerta.
Se você caiu aqui no meu site, ou se me acompanha no Instagram, já sabe que novas tecnologias aplicadas ao direito constituem um tema muito recorrente nas minhas falas, inclusive na acadêmica (faculdade, não malhação).
Sim, desde criança eu me identifico muito com inovação, modernidade, novas tecnologias, e na vida adulta isso não mudou.
No final dos anos 90 eu tive um celular Motorola tijolão analógico modelo PT550 (pesquisa aí) que herdei do meu pai quando ele comprou um mais moderno para ele. Depois disso tive um Nokia 6160 – lançado em 1998 – que tinha como a maior inovação a tecnologia de envio de SMS (que, por sinal, só poderia ser enviado entre linhas da mesma operadora). Só então, depois desses dois modelos, é que veio o famoso Nokia 3310/3320, conhecido injustamente como tijolão, tendo em vista que os dois modelos que mencionei anteriormente é que de fato mereciam esse nome.
Sou algo que se convencionou chamar de early adopter, alguém que é entusiasta de novas techs e as adota e passa a usar logo no início quando são lançadas. A título de exemplo, logo que o bluetooth foi lançado eu e meus amigos ficávamos brincando, fascinados, de enviar fotos e mp3 de um celular para o outro. Assim que a internet 2G (sim, antes da 3G) foi lançada, lá estávamos nós baixando toques e papéis de celular para os nossos celulares (que ainda não se denominavam smartphones). Antes de a Apple lançar o primeiro iPad, tive a oportunidade de comprar o meu primeiro tablet – da Sony – na loja onde eu trabalhava, em setembro de 2011. Ostentei um dos primeiros smartwatches aqui pelas bandas de Rio Branco.
Sim, fazendo esse retrospecto consigo visualizar que fui privilegiado por minha família – e depois eu mesmo – poder adquirir essas coisas. Isso certamente teve forte influência na minha atuação como pesquisador e professor de novas tecnologias aplicadas ao Direito.
Ocorre que, aos 35 anos de idade, parece que viver envolto a tanta tecnologia, exposto a tudo isso por décadas, está me afetando.
É claro que não posso creditar isso somente à tecnologia. Já identifiquei que o formato da organização da sociedade humana, baseada na desigualdade extrema e na exploração das pessoas como máquinas produtivas, também é um fator de ansiedade adoecedora.
O meio digital, representado e externalizado pelos smartphones e computadores, é grande foco e canal de demandas constantes (tanto de trabalho como demandas sociais), apresentação de vidas perfeitas e falsas, exigência de falsas metas sociais (como se para ser alguém a pessoa necessitasse conquistar ou comprar aquilo que está sendo-lhe exibido nas telas), e tudo o que é mais exploratório que existe.
Basta analisar bem, para perceber que as redes sociais em que estamos são ferramentas para, dentre outras coisas, fazer as pessoas trabalharem para consumir aquilo que não necessitam de verdade, mantendo um sistema de produção de capital e enriquecimento concentrado. O outro aspecto da internet atualmente é servir de distração para as mentes, evitando que as pessoas reflitam sobre o que vivem cotidianamente. “Pão e circo para o povo”.
Isso tudo possui uma carga pesada de mecanização do homem e injustiça social.
Todo esse contexto só pode resultar em aumento da incidência de ansiedade e de estresse, que agora é denominado de estresse tecnológico.
O que tenho passado é um cansaço mental muito grande por a todo instante ser demandado pela sociedade. Não me refiro apenas a trabalho, mas às relações humanas, demandas para visualização de e-mails, mensagens, atualizações por meio de notícias.
A cada vibração do celular, sinto uma descarga de ansiedade grande na minha mente. Estresse sempre presente.
É paradoxal o fato de eu ser pesquisador e explorador da área de novas tecnologias aplicadas ao direito mas ao mesmo tempo estar passando por isso.
Mas é como tem sido.
No post, o Professor Leonardo Vasconcelos, discute o uso da tecnologia no ensino superior, levantando a questão se ela realmente ajuda no processo de aprendizagem ou se é apenas uma "ilusão de facilidade". Aponta que há uma crença generalizada de que a geração atual é expert no mundo digital e virtual, o que não é necessariamente verdade, especialmente em um país como o Brasil, com um baixo nível de alfabetismo funcional e tecnológico. Além disso, observa que há dois grandes grupos de acadêmicos no nível superior: aqueles que apenas querem se formar e aqueles que se preocupam com a sua atuação futura. O primeiro grupo, que é o mais numeroso, tem a tendência de se contentar com o pouco ministrado em sala…